Olá, queridos leitores.
O post passado foi um sucesso! Nove (eu disse NOVE) comentários! Levando-se em consideração que o blog tem pouco mais de duas semanas, onze posts e que recebe cerca de 50 visitas por dia (40 são minhas, tudo bem), é um número muito expressivo, o que mostra que meus doze leitores são muito participativos.
Hoje não tem dúvida. Hoje resolvi refletir sobre um assunto, a pedido do pessoal da Rádio Grejur. Antes disso, gostaria de explicar o que é a Rádio Grejur.
A Rádio Grejur (
http://redegrejur.blogspot.com/ - eles estão com domínio próprio, mas me foge à memória agora) é um blog especializado em concursos públicos com arquivos de áudio voltados para esse fim. São materiais dos mais diversos, desde leis inteiras em áudio, até questões de concursos corrigidas e comentadas. A qualidade do material impressiona pelo esmero com o qual é feito. O sotaque carioca e a voz de locutor do rapazinho do áudio são um show à parte (Já peguei até a expressão "podemos marcar, com toda certeza..." para minhas aulas). Vocês podem até achar que eu estou brincando, mas há algum tempo aboli as músicas do rádio do meu carro, para ouvir o material da galera. A única exceção feita é quando tem carona no carro. Aí, também, ninguém merece ir a viagem toda ouvindo falar em
fumus boni juris e
periculum in mora.
O melhor da Rádio Grejur é que todo o material é posto à disposição de forma totalmente GRATUITA. Enquanto tem gente que paga rios de dinheiro comprando áudio-aulas de qualidade duvidosa, a Rádio rema contra a maré e faz a festa dos ratos de concurso de forma totalmente 0800.
Quando terminarem de ler o post, convido todos a dar uma passadinha no blog da Rádio Grejur para conferir o material. Duvido que se arrependam!
Terminada a propaganda, vamos começar a escrever.
Eu tinha 12 anos quando, na escola, travei contato com uma matéria que tinha o nome mais comprido que eu já tinha visto até então. Acostumado com nomes curtos do tipo "História", "Ciências" e afins, me deparei com uma tal de "Educação Moral e Cívica". Quando vi aquilo na grade de horários, eu me perguntava para que fim servia aquela porcaria, já que Moral não se ensina (ou você tem ou você não tem. E isso se aprende em CASA) e eu era um exemplo vivo de civismo, já que aprendi a cantar o Hino Nacional antes mesmo de aprender a cantar o Hino do Tubarões de Maranguape, meu time de futebol do coração.
Talvez por isso mesmo, me dei bem com a matéria. Foi a única, tirando o Inglês, que nunca me deu trabalho. Aprendi coisas desde a maneira correta de atravessar a rua (se possível, ajudando uma senhora idosa), até coisas interessantes, como o fato de que o que chamamos de Hino da Proclamação da República (que não cantamos em ocasião nenhuma, nem no dia 15 de Novembro) era, na verdade, o substituto do Hino Nacional Brasileiro. A substituição só não aconteceu porque o Marechal Deodoro preferia o hino atual.
Anos mais tarde, assim como um Pokemon, a matéria evoluiu, e o nome ficou ainda maior: Organização Social e Política Brasileira (carinhosamente chamada de OSPB, porque quando o professor acabava de pronunciar o nome da matéria por extenso, já era hora de terminar a aula). O que aprendíamos lá era de fazer inveja a muitos estudantes de Direito. Falava-se sobre os três poderes, quais os direitos e deveres fundamentais do cidadão, quais os atributos, prerrogativas, nome da mãe, cor da cueca de todas as figuras públicas (Presidente, Ministros, Senadores, Deputados, etc.).
Resultado: nós SABÍAMOS para que servia um Senador. SABÍAMOS (como escrevi no post anterior) que uma eleição não era um concurso de popularidade, mas sim a oportunidade que eu tinha de escolher uma pessoa para criar regras com o objetivo de atingir o "sonho" de todo grupo de pessoas: a paz social.
É bem verdade que, embora não tenham sido criadas durante o regime militar, foi durante este período que a Educação Moral e Cívica e a OSPB tiveram lugar nos bancos escolares. Curiosamente, as eleições não eram diretas e nunca tantos direitos fundamentais foram tão violados. Mas naquela época, as pessoas SABIAM para que servia cada cargo (por isso se brigou tanto pelas eleições diretas) e SABIAM também que estavam sendo lesadas em muitos dos seus direitos (por isso, tantas manifestações contra o governo, tanto nas ruas, quanto nas músicas, filmes, livros, etc.). As pessoas gritavam porque SABIAM o que estava acontecendo.
Verdade seja dita, na verdade as matérias foram usadas também para firmar nas jovens mentes o formato político da época, mas as pessoas tinham CONSCIÊNCIA do que acontecia ao seu redor. Além disso, as disciplinas preparavam as pessoas para um regime democrático que haveria de vir.
O governo militar não se importava com o fato de as pessoas serem tão conscientes de seus direitos e deveres por uma questão muito simples:
era um governo que dominava pela força. Gostou, beleza. Não gostou, vamos lhe mostrar os porões escuros e úmidos do inferno. E o inferno tinha um porão em praticamente cada Organização Militar deste país.
Porém, os militares passaram a bola...
A questão do momento era:
como dominar as massas sem as armas dos militares (e sem parecer com aqueles que quisemos um dia derrubar)? Simples: basta tornar o povo ignorante. Daí eles vão para onde se aponta, sem questionar.
Com a desculpa de varrer do país todo vestígio do regime militar, os governantes tomaram diversas atitudes, como a elaboração de uma nova constituição, por exemplo. Durante a realização destas novas medidas, varreram do currículo escolar as matérias de Educação Moral e Cívica e OSPB, dando início a um processo de idiotização do nosso povo. Assim, bastava esperar.
Atualmente, nunca o povo está mais mal-educado do que nunca. Basta dar uma volta de carro por aí pra perceber. Ninguém respeita mais ninguém. Ninguém mais ajuda a velhinha a atravessar a rua. Ninguém sabe cantar o Hino Nacional. Tem gente que acha que o FHC é o presidente até hoje!!
Esses dias eu estava sentado com um amigo, daí conversei com ele:
- Cara, e essa tal CSS, hein?
- Pô, velho, sou uma merda com HTML...
- HTML?
- É, cara... Tu não tá falando de programação?
- Claro que não! Eu sou advogado, não entendo nada de informática. Tô falando do novo imposto que o governo quer criar para substituir a CPMF.
- CPMF? Essa linguagem eu não conheço. Tem a ver com Java?
- Não, cara. Deixa pra lá... (mudando de assunto) A cerveja aqui aumentou para R$ 5,00.
- POOOOOORRA!!! FILHOS DA PUTA!!!!
Percebam que o camarada SE REVOLTOU quando mencionei o preço da cerveja mais alto do que a média, mas quando falei em um novo imposto, ele nem se ligou.
Imaginem a seguinte cena: um político qualquer, aparece na televisão esta noite e fala:
- Boa noite, meus caros compatriotas. Estou aqui para anunciar a criação de mais 35 novos impostos. Além disso, quem recebe mais de R$ 200,00 vai ter que pagar imposto de renda. Também estamos aumentando a taxa de juros para 2352% ao dia e a inflação vai aumentar para 300%. Aqueles que ficarem insatisfeitos, podem passar no meu gabinete, que meu assessor vai passar a mão na bunda de cada um.
O pai de família, aquele mesmo, que faz malabarismo para poder criar seus 8 filhos e esposa com um salário mínimo, sem qualquer sinal de espanto, apenas fala para o aparelho de TV:
- Vai sobrar o da cervejinha?
Agora, situação inversa. Político na TV novamente:
- Brasileiros e brasileiras do meu Brasil brasileiro. Vim aqui para anunciar que a partir de amanhã, o preço das bebidas alcoólicas aumentará em 300%.
É o suficiente. Caras-pintadas invadem a rua. Dercy amaldiçoa do além-túmulo até a 7ª geração daquele que ousou proferir as ousadas palavras. Ouvem-se rumores de
impeachment do
Presidente da República, que insiste em dizer que não sabia de nada. Mulheres fazem greve de sexo nos quatro cantos do país. As mulheres feias são as mais prejudicadas (somente por causa da bebida elas conseguem algumas aventuras amorosas) e, por isso traçam um plano para invadir o Congresso Nacional e tomar o poder. Sem armas, só com a feiura. E, para arrematar, os Tribalistas ameaçam voltar a gravar.
O que quero dizer, é que, parte da atual falência do nosso país se deve à desvalorização do ensino. Antigamente, a escola procurava passar valores éticos, ajudava a formar o caráter do jovem e, mais tarde, o ajudava a tornar-se cidadão. Hoje em dia, você consegue ver algo, muito superficialmente na faculdade de Direito. Mas aí o caráter da pessoa já está formado. E por isso, tantos colegas meus agem de forma tão imprópria, o que dá origem a algumas piadas de advogado.
Infelizmente, no sistema atual, valores como moral, civismo e ética, foram trocados por cerveja, futebol, carnaval e bunda. Resultado: este ano, temos eleições, e tem gente que nem sabe quais cargos serão escolhidos. Tem gente que nem sabe em quem votou para vereador nas eleições passadas. Mas sabem de cor a escalação do XV de Jaú. Sabem quem é que vai ficar com quem na novela. Sabem os versos da música nova da Ivete, mas não cantam o Hino Nacional.
Ainda temos chance. Mas enquanto pensarmos SOMENTE em cerveja, futebol, carnaval e bunda, é isso que nosso país se tornará. Um folião bêbado, perna-de-pau e tarado.
**ATENÇÃO** Este post foi transcrito para o formato mp3 pela Rede GREJUR. Se você é preguiçoso e não gosta de ler, clique: http://www.mediafire.com/?zemjynubmyyMeu orkut:
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